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quinta-feira, 18 de março de 2010

João Gilberto grava novas canções para filme "O Gerente"...


O recluso João Gilberto, 78, começa a gravar ainda neste mês três canções para "O Gerente", filme de Paulo César Saraceni recém-finalizado. Serão novas interpretações para "Louco" (Wilson Batista/Henrique de Almeida) e "Insensatez" (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) e um tema inédito, de autoria do cantor, um compositor bem eventual.

Essa música já começou a ser esboçada pelo artista no apartamento em que vive no Leblon, na zona sul carioca. A canção será instrumental, possivelmente cantarolada. Apenas ele e o violão, como nos registros de algumas de suas poucas músicas autorais.

São ao menos 12 as canções compostas por João Gilberto gravadas ao longo de uma carreira que já dura 61 anos. Ele começou em 1949, na Rádio Sociedade da Bahia. Baiano de Juazeiro, na margem direita do rio São Francisco, veio trabalhar no Rio no ano seguinte.

João e Saraceni, 76, são amigos desde os anos 80, quando o cineasta filmou, em parceria com Leon Hirszman (1937-1987), o documentário "Bahia de Todos os Sambas".

Realizadas em 1983 em Roma, as filmagens mostram espetáculos ao ar livre em que se apresentaram artistas da Bahia. Estiveram lá João Gilberto, Dorival Caymmi, Caetano Veloso, Tom Zé, Moraes Moreira e Gilberto Gil, entre outros. O material filmado gerou o documentário, lançado em 1996, em VHS e, depois, em DVD. Já foi exibido pelo Canal Brasil na TV paga, mas é artigo raro. No filme, João Gilberto canta quatro músicas: "Estate" (Martino/ Brighetti), "Wave" (Tom Jobim), "Insensatez" e "Louco".

Surpresa
O reencontro de João e Saraceni aconteceu no ano passado. Mesmo cético, o cineasta telefonou para o cantor e pediu autorização para usar as gravações romanas de "Insensatez" e "Louco" em "O Gerente". Essas interpretações jamais constaram de CDs.

"Eu queria muito o "Louco" na interpretação do João. Combina bem com o filme", disse Saraceni à Folha. Na conversa telefônica, João surpreendeu, ao propor que fossem feitas novas gravações, em estúdio, sem as imperfeições do ao vivo e da orquestra que o acompanhava no concerto das termas de Caracalla.

A surpresa foi ainda maior quando João disse que faria uma música nova para o filme. Saraceni não esperava --e está esperando até hoje, porque o filme ficou pronto, falta apenas a inserção das três canções.

Para que João as grave, Cláudia Faissol, mãe de Luísa, filha caçula de João, monta um estúdio em seu apartamento na zona sul, com alguns equipamentos trazidos dos EUA. Segundo ela, ainda neste mês as gravações serão iniciadas.

"João teve simpatia pela ideia [de gravar para o filme]. E também quer gravar outras coisas para ele. Até junho estará tudo pronto", previu Cláudia, diretora de um documentário sobre João Gilberto, "Bossa Brasil", ainda inédito.

A admiração de João Gilberto pelo poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) pode ter contribuído para que ele decidisse participar do projeto de Saraceni. "O Gerente" é baseado em um conto do poeta. Foi o primeiro roteiro de Saraceni, pronto desde 1952 -logo, inédito por 58 anos.

Em "Chega de Saudade, a História e as Histórias da Bossa Nova" (editora Companhia das Letras), o autor Ruy Castro narra o episódio em que João, ainda um desconhecido, ao avistar Drummond no centro do Rio, abordou-o, chamou-o de mestre e pediu um autógrafo, firmado em um envelope pardo, perdido tempos depois.

Para o elenco do longa-metragem Saraceni chamou artistas com quem já trabalhara, como sua mulher, Anna Maria Nascimento e Silva, e Ney Latorroca (em "Anchieta, José do Brasil", de 1978).

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