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sexta-feira, 7 de março de 2008

Milton reencontra Tom Jobim...

Daniel Jobim, Milton Nascimento e Paulo Braga em frente à foto de Tom Jobim


O baterista Paulo Braga, que integrava a banda de Tom Jobim, recorda o maestro em 1994 animado com um projeto para o ano seguinte: gravar um disco com Milton Nascimento. A morte em 8 de dezembro soterrou o plano, evocado agora em "Novas Bossas", gravado por Milton com o Jobim Trio.


Mas o trabalho não se resume a "Milton canta Jobim". Embora o cantor não pensasse em incluir músicas suas, foi convencido por Paulo e Daniel Jobim -filho e neto de Tom que formam o trio com Braga- a regravar "Cais" e "Tarde", além de "Tudo que Você Podia Ser" (Lô e Márcio Borges), primeira faixa do histórico "Clube da Esquina" (1972). "O trio foi empurrando o disco para outros lados. Afinal, já estávamos tocando "Tão" Jobim há um bom tempo", brinca Paulo.


O placar ficou assim: seis faixas não-Jobim, com "Dias Azuis" (Daniel Jobim), "O Vento" (Dorival Caymmi) e "Medo de Amar" (Vinicius de Moraes) somando-se às já citadas; e oito jobinianas, entre elas "Chega de Saudade", "Inútil Paisagem" e as nada óbvias "Esperança Perdida" (Milton pediu uma canção em fá) e "Velho Riacho" (Milton pediu um samba). "Quando vim para o Rio, os intelectuais torciam o nariz dizendo que eu não fazia samba. Mas também tenho meus sambinhas", diz o cantor, que nasceu no Rio, mas cresceu em Três Pontas (MG).


Também foi pouco depois de chegar ao Rio que Milton conheceu Tom. Eumir Deodato o levou à casa do maestro, a quem o jovem compositor mostrou as três canções que inscreveria no Festival Internacional da Canção de 1967: "Travessia", "Morro Velho" e "Maria, Minha Fé". "Quando estávamos indo embora, já de manhã, um amigo começou a cantar "Morro Velho" no carro. Tom veio correndo corrigir o rapaz, que estava errando na letra: "É "filha "de" branco e "do" preto". Eu pensei: "Esse cara entendeu tudo!'", lembra Milton. Mas houve momentos em que a relação desafinou. Da gravação pouco ortodoxa de "A Felicidade" feita por Milton em 1970, Tom nunca se queixou abertamente. "Nunca soube nem quero saber o que ele achou", esquiva-se o cantor.


No entanto, quando ensaiavam "Olha Maria" para um especial de TV, no início dos anos 90, Tom chegou a dar um murro no piano por não concordar com a interpretação de Milton. "Falei para ele: "Sou um intérprete de melodias e também de letras. Se você não quer que eu cante assim, então era melhor não ter feito letras com Vinicius de Moraes e Chico Buarque" [letristas de "Olha Maria']. Saí de lá me achando o pior intérprete de Tom", conta.


No dia seguinte, para surpresa de um tenso Milton, o maestro lhe perguntou: "Você não quer gravar todas as minhas músicas?". "Tom ranhetava, mas reconhecia a força do Milton e queria mesmo que ele gravasse todas as músicas", conta Braga. "Meu pai dizia que o Milton era o único que cantava as músicas dele nos tons certos. Os outros iam baixando o tom para conseguir", diz Paulo.
Reportagem: FOLHA DE SÃO PAULO (SUCURSAL DO RIO)

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