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terça-feira, 16 de setembro de 2008

Camelo decola com liberdade em CD solo...


Marcelo Camelo está sozinho, porém livre. No disco que marca sua estréia longe dos Hermanos, isso fica claro. Sou funciona como um grito - ou melhor, um sussurro - de liberdade. Em clima introspectivo, o cantor e compositor experimenta à vontade e dialoga com estilos que vão do carnavalesco ao clássico. “Posso estar só, mas sou de todo mundo”, avisa ele na distraída Doce Solidão, uma das 14 faixas do recém-lançado álbum.

Se todos têm vez no deserto de Camelo,
Mallu Magalhães e Dominguinhos são visitantes bem-vindos. Ao lado do artista, ambos protagonizam os melhores momentos do CD. Cria da rede MySpace, Mallu dedilha seu violão e canta - em português e inglês - na deliciosa Janta. Em Liberdade, Dominguinhos transforma com sua sanfona uma excelente composição da época dos Hermanos. Dois encontros enriquecidos pela espontaneidade.

Apesar de sempre ter se garantido como compositor,
Camelo consegue avançar em seu álbum solo. Sou traz letras curtas, pautadas quase sempre pela solidão - motivo recorrente nas composições do artista. “Amor, eu vivo tão sozinho”, canta ele, na introspectiva Saudade. “Estamos sós”, conclui, em Passeando. Por outro lado, há momentos de pura alegria. Copacabana conquista logo de cara com um contagiante elogio ao bairro carioca.

Com exceção da citada Liberdade e da cativante Santa Chuva - registrada por Maria Rita em seu primeiro CD - todas as canções do repertório foram criadas após o recesso dos Hermanos, anunciado há um ano. Aliás, não são tantos os vestígios do grupo. Com força, aparecem apenas em Mais Tarde e Menina Bordada. Em Sou, quem pilota os instrumentos são os paulistanos do
Hurtmold, que impõem um peso contemporâneo e progressivo ao disco.

Além dos roqueiros de São Paulo, Domenico Lancellotti, do
Kassin +2, comanda a bateria e a percussão em Vida Doce e na leve Doce Solidão. Clara Sverner, pianista erudita com incursões pelo popular, assina as versões instrumentais de Saudade e Passeando. Originalmente, as canções aparecem na voz e no violão de Camelo. Completando as participações, Rob Mazurek pontua seu trompete com precisão em Tudo Passa.

Qualquer tentativa de enquadrar Sou em um único estilo pecaria pelo reducionismo. Com seu álbum de estréia, Camelo mostra que, apesar de sozinho, está inserido em um universo de infinitas possibilidades. Talvez seja essa a mensagem do poema concreto de Rodrigo Linares que ilustra a capa do disco. Basta um movimento para notar que Sou pode ser Nós. Ou que a solidão, em diversas situações, pode significar liberdade.
Texto: Cyro Salgado
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